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Nunca estivemos tão perto de destruir o mundo

30 de janeiro de 2018

Painel de cientistas adianta o Relógio do Apocalipse devido à ameaça de guerra nuclear.

Hoje estamos mais perto do fim do mundo do que jamais poderíamos ter imaginado alguns anos atrás. É o que dizem os especialistas do Boletim de Cientistas Atômicos, que decidiram adiantar o ponteiro de minutos do Relógio do Apocalipse em meio minuto em relação à meia-noite, deixando-o às 23h58. A possibilidade da aniquilação da humanidade é tão verdadeira agora como foi em meados dos anos cinquenta, quando as superpotências EUA e URSS colocaram sobre a mesa o seu armamento termonuclear, capaz de arrasar a vida terrestre. Desde 1947, esse painel de cientistas — composto por prestigiosos especialistas, incluindo 15 vencedores do Prêmio Nobel — move os ponteiros desse relógio simbólico para alertar a humanidade dos perigos que ameaçam sua própria existência. Em 1953, como agora, o relógio foi acertado para marcar dois minutos para a meia-noite. Se chegar a marcar 0h00, seria o fim.

“Na discussão deste ano, os assuntos nucleares ocuparam o centro das atenções mais uma vez”, disse a presidenta do Boletim, Rachel Bronson, em uma conferência de imprensa realizada em Washington D.C. Em sua declaração pesou o lastro que os tuítes de Donald Trump representam para o futuro da humanidade. O painel culpa “a espiral descendente da retórica nuclear entre o presidente norte-americano Donald Trump e o líder norte-coreano Kim Jong-um” e adverte que Trump “deveria evitar uma retórica provocativa em relação à Coreia do Norte, reconhecendo a impossibilidade de prever suas reações”.

As relações dos EUA com a Rússia e a gestão de Trump do acordo com o Irã na questão atômica também tiveram uma influência notável. “O fracasso dos líderes mundiais em enfrentar as maiores ameaças ao futuro da humanidade é lamentável, mas esse fracasso pode ser revertido”, justificou o painel, que também apontou “a ameaça representada pelo uso indevido da tecnologia da informação” e “a vulnerabilidade das democracias à desinformação”. “O debate político agora é o que vamos fazer a respeito disso”, acrescentou Bronson.

“É difícil comparar com outras épocas. Fizemos uma declaração clara de que sentimos que o mundo está se tornando mais perigoso”, disse o físico Lawrence Krauss sobre a comparação com a outra época na qual estivemos muito perto da aniquilação. “Se você lê a declaração de 1953, há paralelos, incluindo a questão da unidade europeia”, lembrou a presidenta. Em 1991, com o fim da Guerra Fria, o relógio marcou a melhor hora, 17 minutos para a meia-noite. Mas, desde 2010 não paramos de nos aproximar da meia-noite no Doomsday Clock.

No ano passado, o painel tomou a peculiar decisão de adiantar pela primeira vez o relógio em apenas 30 segundos poucos dias depois da posse de Trump, deixando-o às 23h57min30s. “Nunca antes o Boletim tinha decidido adiantar o relógio devido às declarações de uma única pessoa. Mas quando essa pessoa é o novo presidente dos EUA, suas palavras importam”, disseram naquele momento os cientistas em relação à verborragia de Trump.

Junto com o risco de guerra nuclear, o aquecimento global foi outro fator decisivo para o painel: o ano passado foi o mais quente dos registros históricos, e isso aconteceu pelo terceiro ano consecutivo. 2015, 2016 e 2017 foram os anos mais quentes desde que existem registros e 17 dos 18 anos mais quentes foram registrados durante este século. Mais uma vez, os EUA têm um peso decisivo na decisão: “A administração Trump, em que conhecidos negacionistas da mudança climática ocupam altos cargos (…) anunciou seu plano de saída do Acordo de Paris. Em seu afã de desmantelar uma política climática e energética racional, ignorou os fatos científicos e as análises econômicas bem fundamentadas”, afirma o painel.

Os especialistas em riscos existenciais — os perigos que poderiam acabar com a humanidade — consideraram que este ano os membros do painel tiveram de enfrentar uma situação difícil. “Não acho que as pessoas de bem que criaram a metáfora do relógio pudessem prever Trump!”, brinca Phil Torres, especialista neste campo consultado pelo EL PAÍS. “Estão ficando sem minutos”, disse Torres, diretor do Projeto para a Futura Prosperidade Humana, antes de tomar conhecimento da decisão do Boletim. Torres pensava que deixariam o relógio sem alterações “enquanto denunciam de forma devastadora as políticas totalmente absurdas da administração Trump, juntamente com os tuítes perigosamente pueris de Trump, que o editor-chefe do Boletim qualificou recentemente como um ‘risco existencial’ para a humanidade”.

O Boletim foi fundado por um grupo de cientistas norte-americanos envolvidos no Projeto Manhattan, que desenvolveu as primeiras armas nucleares do mundo durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1947, eles lançaram a ideia do Relógio do Juízo Final para divulgar o perigo que as guerras nucleares representavam para a humanidade. Hoje, o Boletim é uma organização independente sem fins lucrativos dirigida por alguns dos cientistas mais eminentes do mundo, que inclui 15 prêmios Nobel em seu painel. Em sua primeira edição, os ponteiros foram colocados 7 minutos antes da meia-noite. Em 1995, 14 minutos. Em 2007, as mudanças climáticas começaram a ser consideradas entre suas preocupações em relação ao futuro da humanidade, às quais agora também se juntam fatores como a ciberguerra e o bioterrorismo.

Fonte: El País



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