Alguns dos desenvolvimentos mais excitantes da moda não estão acontecendo na passarela mas sim nos laboratórios. Com o crescente interesse da indústria da moda em descobrir novas matérias primas, técnicas de tingimento e métodos de fabricação mais éticos e sustentáveis, cientistas utilizam a biotecnologia para revolucionar os atuais métodos de produção, eliminando o desperdício e poluentes.
Pesquisadores e startups de todo mundo apresentam a cada dia novas descobertas e produtos para o mercado. Veja a seguir alguns dos mais excitantes desenvolvimentos que têm o potencial de mudar o futuro da moda.
Corantes naturais produzidos por algas e bactérias
Grandes volumes de resíduos perigosos e de águas residuais são produzidas a partir de diversos processos têxteis que usam corantes sintéticos. De acordo com o Banco Mundial, as indústrias de tingimento produzem 20% da água poluída na industrial que são despejados sem tratamento nos rios e lagos de países asiáticos que concentram a maior produção têxtil mundial. Para criar uma alternativa mais sustentável, pesquisadores estão apostando nas algas e bactérias para se obter novos corantes naturais.
O projeto espanhol SEACOLORS é um centro de pesquisa nas Ilhas Canárias montado pelo Banco Espanhol de Algas (BEA) para validar um novo processo de fabricação de corantes naturais através de uma fonte sustentável e renovável, as algas. Para substituir os corantes sintéticos, a nova solução deve ser capaz de fornecer uma ampla gama de cores, e consequentemente, uma alta variedade de tons.
A PILI é uma empresa francesa de biotecnologia que visa desenvolver novos processos para a produção biológica de corantes renováveis e biodegradáveis, oferecendo uma alternativa aos poluentes corantes sintéticos que são utilizados principalmente nas indústrias têxtil, tintas e cosmética. A ideia é utilizar as bactérias do solo para produzir naturalmente belos pigmentos coloridos por suas características orgânicas e recicláveis. Veja toda matéria neste link.
Natsai Chieza é uma biodesigner da Faber Futures e na Ginkgo Bioworks, onde ela está trabalhando num método que usa pigmentos secretados por bactérias para tingir tecidos. A técnica reduz drasticamente o consumo de água e o próprio pigmento é naturalmente criado pelas bactérias.
Couro líquido feito de colágeno
Couro pode ser durável e não tão descartável como muitos dos materiais favoritos da moda, mas em países como China e Índia que são grandes produtores de couro, o processo de curtimento utiliza produtos químicos tóxicos que poluem o meio ambiente e intoxicam os trabalhadores.
O couro é um subproduto da indústria da carne, e a indústria do couro ajuda a reduz o desperdício mas essa lógica não desperta o interesse dos ativistas dos direitos dos animais que buscam trabalhar com os chamados “couros veganos”. Este é o lugar onde entra a Modern Meadow, uma empresa que fabrica couro líquido em laboratório usando fermentação de levedura para produzir colágeno. A produção do couro líquido Zoa da Modern Meadow não precisa de animais, reduz o desperdício pois o material pode ser feito no formado exato e elimina os produtos químicos envolvidos.
As grandes possibilidades de design personalizável do novo material resultou em mais de 130 empresas procurando a Modern Meadow para colaborações. Os primeiros produtos com couro Meadow Modern serão lançados por marcas de luxo e moda esportiva no próximo ano.
Tecidos feitos de algas
As algas crescem mais rápido do que qualquer organismo na Terra, incluindo bambu. Então, por que não estamos explorando essa abundante matéria prima renovável em vez de destruir florestas nativas para criar tecidos como rayon e viscose?
Essa é a proposta da AlgiKnit, um grupo de pesquisa em biomateriais formado por ex-estudantes do FIT e Pratt de Nova York que se reuniram para competir e ganhar o prêmio BioDesign Challenge em 2016, desenvolvendo um fio fabricado a partir de biopolímeros extraídos de algas.
Como a lã ou algodão, o material é durável o suficiente para uso a longo prazo, mas ainda totalmente biodegradável. A equipe espera que seus fios à base de algas possa ser capaz de substituir as fibras sintéticas a base de petróleo algum dia. Saiba mais nesse link.
Seda sintética de aranha
A seda da aranha é uma seda incrivelmente durável, elástica e mais forte que o aço, mas como as aranhas são canibais, elas não podem ser cultivadas como os pacíficos bichos da seda. Como resultado, a seda de aranha é excepcionalmente cara e inviável de se produzir em larga escala.
Mas algumas startups de biotecnologia conseguiram contornar esse problema criando seda de aranha sintética, como é o caso da empresa americana Bolt Threads que lançou o primeiro produto de seda de aranha disponível comercialmente no mundo em março. A startup fez uma parceria com a estilista Stella McCartney para criar algumas peças de seda de aranha sintética, um dos quais foi exibido na exposição “A Moda é Moderna?” no MOMA.
Além do método de fabricação sustentável da nova fibra, ela absorve o corante melhor do que a seda tradicional. A união da tecnologia e sustentabilidade na indústria da moda está dando excelentes frutos.
Tecidos feitos de bactérias que se alimentam de metano
A inovação tecnológica para se criar uma indústria da moda circular não pára. Ao usar o gás metano como base para se fabricar fibras biodegradáveis PHA, a startup americana Mango Materials quer criar um novo modelo para fabricação de tecidos e roupas em circuito fechado, que ajudar a reduzir a quantidade de resíduos gerados pela indústria têxtil e limpar a atmosfera.
Roupas feitas a partir do novo material, uma versão biológica do poliéster, podem ser compostadas quando se desgastam, mas se acabarem num aterro sanitário, irão se biodegradar naturalmente e o metano liberado no aterro poder ser capturado para fazer uma nova fibra.
Reciclagem química de fibras têxteis
A busca por um sistema de moda circular onde cada componente de uma peça de roupa pode ser re-utilizada no final de sua vida, está aumentando, com algumas marcas de moda pedindo que seus clientes doem suas roupas velhas para reciclagem. Mas a verdade é que a tecnologia atual de reciclagem mecânica de roupas velhas não é eficiente.
Um avanço recente feito pelo Instituto de Pesquisa Têxteis e Vestuário de Hong Kong (HKRITA) em parceria com a Fundação H & M, uma organização sem fins lucrativos financiada pela mesma família sueca que fundou o grupo H & M , pode começar a resolver isso. A HKRITA anunciou em setembro que tinha desenvolvido com sucesso um método para separar o algodão e poliéster em misturas de poli-algodão que permitiriam que ambos os materiais possam ser reciclados em novos fios.
O processo utiliza o calor, quantidades mínimas de água e menos do que 5% de química verde biodegradável para separar as fibras. O poliéster pode ser reutilizado perda de qualidade, como resultado do processo. O objetivo da colaboração é o de facilitar o desenvolvimento de uma indústria da moda circular onde os resíduos têxteis possam ser reciclados continuadamente. O melhor de tudo é que a tecnologia será disponibilizada para a indústria da moda global. A descoberta é um grande avanço na jornada rumo a um circuito fechado para os têxteis.
Autor/Fonte: Stylo Urbano
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